minilondon

Tuesday, September 20, 2005

over!

então tá. agora acabou. eu não estou mais em londres, nem pretendo voltar. poderia até começar um minisãopaulo ou minisantarita, mas acho que não. comecei a escrever um diário e a anotar meus sonhos, mas estou mantendo-os guardadinhos só para mim.

estou ouvindo uma música muito linda do oasis chamada "half the world away". e acho que é um bom final pro minilondon.

I would like to leave this city
This old town don’t smell too pretty and
I can feel the warning signs running around my mind
And when I leave this island I’ll book myself into a soul asylum
Cos I can feel the warning signs running around my mind

So here I go, I’m still scratching around the same old hole
My body feels young but my mind is very old
So what do you say?
You can't give me the dreams that are mine anyway
You’re half the world away
Half the world away
Half the world away
I’ve been lost, I’ve been found but I don’t feel down.

And when I leave this planet
You know I’d stay but I just can’t stand it and
I can feel the warning signs running around my mind
And if I could leave this spirit I’d find me a hole and I’ll live in it ’cos
I can feel the warning signs running around my mind

So here I go still scratching around in the same old hole
My body feels young but my mind is very old
So what do you say?
You can't give me the dreams that are mine anyway
You’re half the world away
Half the world away
Half the world away
I’ve been lost, I’ve been found but I don’t feel down
No I don’t feel down
No I don’t feel down

I don’t feel down

Sunday, September 18, 2005

back

bem vinda. é assim que eu me sinto: muito bem vinda. o cheiro da casa, o sabor do abraço cada vez mais apertado, o som dos beijos cheios de carinho, as mensagens trocadas com os amigos - e as promessas de visita, né? - e o ar de familiaridade. cheguei ontem e parece que não fui embora nunca. a sensação é cheia, como se todo o apoio, as risadas, o carinho e o cuidado estivessem sempre comigo. e realmente estiveram.

só um fato é maravilhosamente novo: a maria clara. fiquei de queixo caído e muda olhando o jeito em que ela fica deitadinha, mexendo os bracinhos, os olhos explorando todo o mundo em volta. como se cada cor, se cada movimento fosse uma coisa nova a ser vista, a ser guardada. minha turistinha do mundo. minha turistinha da vida. ao mesmo sem entender como criança é uma coisa estranha: pessoas já, mas sem ansiedade nenhuma da vida, sem pressa nenhuma pra viver.

estou em santa rita ainda e devo ficar até no começo da outra semana, depois do batizado da minha sobrinha. consegui ligar a internet no Lôrão - que se adaptou incrivelmente bem ao clima tropical brasileiro - e já estou quase conseguindo reativar meu celular. depois da aventura que foi tentar encontrar meu número antigo (eu tive tantos números de telefone enquanto morei em são paulo que, ao procurar na cadernetinha de telefones do meu pai, achamos cinco números e tivemos que ligar prá todos eles até encontrar o correto - 11.8224.037X), fico sabendo que a tim simplesmente não reativa celulares no fim de semana. amanhã, no entanto, ele já deve estar funcionando e recebendo ligações. ou seja, estarei perfeitamente comunicável e comunicante. eba!

a viagem de volta foi um fracasso. sentei do lado de um gordão que, além de ocupar metade da minha poltrona e me espremer, ainda ficou super bêbado e pediu prá segurar minha mão. depois de ouvir impropérios, ele sossegou a periquita e dormiu. e eu ainda fiz ele baixar a meleca do encosto de braço - ficou pela metade - e "chegar prá lá". ele até dormiu. não foi tão difícil assim.

paris foi legal mas eu tava tão cansada que não consegui aproveitar "devidamente". encontrei o rô - um amigão de santa rita que se mudou para o mato grosso um tempão atrás - e ficamos andando pela cidade, passeando pelos lugares e conversando sobre a vida. tenho uma coisa muito boa com alguns amigos que é igual esta volta. não importa quanto tempo longe, é sempre igual. as conversas iguais, o sentimento de confiança e conforto sempre iguais. e com o rô foi assim. e muito divertido. no dia seguinte, sozinha, fui ao museu dos inválidos, champs elysees e no palais du tokyo. mas gostoso mesmo foi fazer um picnic solitário e dormir numa graminha debaixo da torre. fiquei na casa da marine, uma amiga da nana que foi uma graça e me levou prá passear também. mas, como ela estava no mesmo esquema que eu, os momentos mais legais foram o almoço que fizemos em casa sexta, antes de eu ir embora.

aliás, "ir embora" agora é uma coisa que vai demorar a acontecer.

maria clara na posição inconfortável de lavar bumbum na pia

eu e meu pai, 7 da manhã no aeroporto

mamadeira 15 x 0 renata

maria clara dando um show de beleza e sensualidade

eu dando um daqueles beeeeijos de cinema na minha irmã

Tuesday, September 13, 2005

Índia

Em primeiro lugar, não é fácil. Posso escolher escrever o que eu realmente acho ou o que é politicamente correto. Porque é completamente incorreto dizer que não gostou da Índia. Pois bem. Eu gostei da Índia. Os indianos é que são complicados. Complicados não. Uns malas. Talvez até bonzinhos, no fundo. Mas uns malas.

Pense na bagunça total. Numa cidade que não é cidade. Que não tem casa direito, rua direito, sistema de saneamento básico nenhum. Onde carro anda com gente, rickshaw, vacas, cachorros, macacos, bicicleta tudo junto em ruas de terra estreitas. Coloque neste lugar 1 bilhão de pessoas. Onde os ônibus não funcionam. Onde a temperatura chega a 39 graus e a poluição é imensa. Onde tem um monte de gente que não tem trabalho nenhum. Pois bem. Piore um pouco e você terá uma idéia do que é a Índia.

Sinta-se livre para se prender aos estereótipos. Tem gente vestida de turbantes, saris, mulheres com brincos enormes no nariz, todo mundo com aquela pinta vermelha na cabeça. Tem gente que casa com a pessoa que os pais escolheram, sem nunca tê-la visto, tem mulheres cuja casta não permite que tenham o rosto descoberto, mulher que precisa pagar o dote pois, caso contrário, corre o risco de ser assassinada pela família e festas de casamento que duram mais de duas semanas. Tem todos aqueles tipos: encantadores de cobras, gurus pelados com espanadores para não pisar em nenhum ser vivo, faquires. Uma grande e louca arca de noé: macacos quase nos atropelaram enquanto andávamos em pushkar, vacas pastando no cimento e porcos-espinho no meio do caminho. Intensa, a Índia é, no mínimo, intensa.

Começamos a viagem por Delhi e de lá alugamos um carro com um motorista - dirigir na Índia é algo que só o cérebro motor indiano, extremamente avançado, consegue - para nos levar para algumas cidades da região do Rajastão, noroeste indiano. O roteiro desta primeira parte foi Delhi - Jhunjhunu - Pushkar - Bundi - Jaipur - Fatekhpur Sikri - Agra.

Delhi é a capital da Índia e sintetiza bem toda a bagunça, mas é "apenas" a grande capital. Suficiente apenas para nos deixar encantados, assustados e já mortos no primeiro dia.

Jhunjunu, uma sugestão do Mr. Yogesh, nosso motorista, o centro de uma região cheia de havelis, casas dos antigos marajás indianos, completamente detonadas e esquecidas pelos seus descendentes que hoje vivem todos nas grandes capitais da Índia e do exterior.

Pushkar, o centro hippie do Rajastão para os turistas e um lugar de peregrinação para os hindus; uma cidade com um lago sagrado no centro onde são realizados os famosos banhos ritualísticos indianos. Diz a mitologia hindu que o deus Brahma jogou do céu trés pétalas da flor de lótus e onde as pétalas cairam se formaram lagos. Pushkar foi o lugar onde ele decidiu descer para tomar seu banho. Não sei se isto é verdade mas nunca acredite que há um deserto em Pushkar. Eu e o Marlos caímos na maior roubada e pagamos uma grana para ir de camelo para o deserto. O "deserto" se mostrou um espaço entre uma casa e um templo hindu que não parava de tocar um pagodão a noite toda.

Bundi, outra sugestão do Sr. Yogurte, uma cidadezinha cheia de casas azuis, com um forte e um castelo enorme, habitado por morcegos e pinturas em todas as paredes. O lugar mais bonito de todos. E o top one unanimidade na Índia.

Jaipur foi onde eu andei de elefante. Capital do Rajastão, lotada de turistas e indianos ávidos pelo dinheiro destes turistas, Jaipur foi bem difícil. Além de já estarmos um tanto cansados, ainda tínhamos que lidar com todos os vendedores quase nos puxando pelo braço para entrarmos em suas lojas. Mas foi em Jaipur que compusemos o hit "Senhor Yogurte", um marco na história da paródia brasileira.

Fatekhpur Sikri fica no caminho entre Jaipur e Agra. Uma cidade famosa pelo seu bem conservado complexo de construções de um rei, no mínimo excêntrico, que morou por lá. Considerado um grande sábio e articulista político e religioso - conseguiu unir em paz as diversas religiões e povos da região através de uma prática de tolerância e discussões -, o rei Tal-Cujo-Nome-Eu-Não-Lembro também ficou conhecido pelos seus pequenos e inofensivos caprichos. Possuía 5000 mulheres, 300 esposas e um prédio enorme só para suportar o tal bacanal. Além disso, o rei gostava tanto de um jogo similar ao ludo que construiu um tabuleiro gigante em seu jardim onde as peças eram, pasmem, as suas mulheres. Algumas partidas chegavam a durar dias e ai da queridinha que se cansasse de ficar no sol escaldante de aproximadamente 40 graus.

Agra é onde fica o Taj Mahal, uma das 7 maravilhas do mundo. Mas é também onde eu tive os meus momentos de super star: assim como os orientais são exóticos para nós - e não há quem volte da Índia sem uma daquelas fotos de mulheres de sari coloridos ou de gurus magrelos - descobri que nós também somos exóticos para os orientais. E que era justamente no Taj Mahal onde algum deles haviam visto pela primeira vez um de nós. Aproximadamente umas 15 pessoas chegaram prá mim para pedir para tirar foto comigo. O assédio foi grande. Agora eu entendo como é dura a fama. Melhor ser somente uma desconhecida.

No final desta parte da viagem alguns sintomas indianos começaram a aparecer: uma grande dor de barriga, uma resistência assustadora à pimenta, um bronzeado completamente desigual, no meio dos braços e do joelho prá baixo e o esgotamento da última dose de paciência. Estava fechando a cara até para criancinha.

E o pior ainda estava por vir.

Nos despedimos do Sr. Danone - nosso motorista - em Agra e pegamos o trem para Jhansi, em direção a Khajuharo, a cidade dos templos de sacanagem. Em Jhansi a pentelhação indiana tomou proporções assustadoras. Nós, os turistas - éramos aproximadamente cinco - no ponto de ônibus e mais ou menos uns 15 indianos juntos tentando nos convencer a desistir da condução e a pegar um táxi.

- hey! (puxando a camiseta, cada um de um turista, em intervalos alternados) 800 rupis to Khajuharo.
- No thanks!
- 600 rupis
- No, thanks.
- 200!
- NO!
- 4 people, 200 rupis!
- NO. NOW BACK OFF! PLEASE!
(5 minutos de paz)

- Bus not coming! Bus not coming!
- No, thanks.
- 200 rupis!
- NO!
- Bus not coming! Bus not coming!
(mais 5 minutos e o maldito ônibus aparece na estradinha).

Logo que chegamos em Khajuharo sentimos um pouco a falta da nossa babá indiana. Mas o Sr. Danone já devia estar feliz em Delhi, então só nos restou ir procurar algum lugar prá dormir. E ir olhar os templos, afinal dia seguinte era ir de novo prá estrada. No meio da primeira expedição aos templos de sacanagem fomos seguido por um menino de seus treze anos com a maior pinta de bonzinho. Não pediu dinheiro, nem chocolate, nem caneta, nem nada. E, inocentes, fomos até outros templos. Na volta ele nos deixa na frente da "escola" da vila. "Entre prá conhecer". E, embromação prá lá, embromação prá cá, acabei deixando 10 libras de "contribuição" prá escola. Sabendo que estava sendo enganada. O pior é isso, eu sabia. E saí de lá puta da vida querendo que uma bomba atômica caisse por engano na cabeça daquele moleque. Esse dia minha paciência foi a - 50.

A ida de Khajuharo pra Varanassi foi um drama mexicano, mas deu certo no final. Num momento enquanto esperávamos na estação pelo nosso trem - vagão ar condicionado com camas e cobertores, devo dizer - uma cena me tocou e eu escrevi sobre ela no diário que manti durante a viagem. "E a pobreza me deixa meio aflita e triste. Ontem uma menininha baixou as calças no meio da estação e começou a fazer xixi no chão. Eu também fiz xixi assim quando era pequenininha. Mas o xixi foi pro pezinho e molhou todo o vestidinho dela. E, normal - isso é a coisa mais normal do mundo pros indianos."

Esperávamos Varanassi ser o pior lugar do mundo. Vaticano da cultura hindu, é a cidade sagrada por onde passa o rio Ganges, onde são feitos quase no mesmo local as cremações e os banhos sagrados. Rio onde o índice de coliformes fecais chega a 250.000 vezes o permitido pela Organização Mundial de Saúde e onde, toda manhã, centenas de pessoas se banham, lavam suas roupas, e dão o maior tchibum. Mas apesar de extremamente turística, Varanassi foi um dos lugares mais tranquilos da viagem. Tirando o protesto que tivemos que cruzar quando íamos embora e quase sermos atropelados (mas isso era o tempo todo, na verdade), foi até legal.

Mas alívio mesmo foi quando chegamos no Nepal. Depois de alguns problemas na nossa passagem causado por uma falta de organização indiana (ahahhaha), chegamos lá com amigos, uma sueca e um canadense que moram em Varanassi mas que iam pro Nepal prá descansar de vez em quando. No Nepal fomos bem hippies: nosso hotel, Tibet Peace Guest House, cujo dono era um suíço casado com uma nepalesa, era povoado por hippies de todos os locais do mundo. E, quatro dias restantes, fomos mesmo é descansar e curtir a cidade.

Desapego não. Compras, sim, muitas. Muitas. Nunca vinte libras renderam tanta coisa. Meu armário voltou renovado e presente prá um monte de gente. Mas bom mesmo foi ver o Everest. Foi subir até a cidade de Nagarkot e, dia seguinte, sem esperanças de que as nuvens fossem baixar, olhar para elas novamente e ver os picos cheios de neve. Annapurna. Everest. E outro. E mais outro. E, de repente todos eles ali, presente de despedida para nós.

A volta foi tranquila. Eu e Marlos com a sensação de termos feito um curso intensivo - Marlos Avançado Nível 3 - e também de passarmos por um No Limite. Acho que vamos escrever um livro. E, enquanto isso, pelo menos a gente vai ter um monte de histórias boas e ruins de contar. Esse texto não tem nem a metade delas.


eu tirando foto em delhi, no jantar mantar, observatório astronômico feito por um maharaja um tempão atrás.

jantar mantar, praticamente um ponteiro de relógio tamanho gigante.

crianças de jhunjhunu, moradora de uma das havelis da região.

sr. Yogesh, ou Yogurte ou Sr. Danone.

primeiro dia no trânsito de delhi.

detalhe da haveli de jhunjhunu

eu e ecta, mandando beijinhos para o mundo

mais detalhes de outra haveli

olha que limpinho o mocinho fazendo o doce que a gente comeu...

nosso amigo caseiro de uma das havelis que visitamos.


bundi, a cidade azul, vista do forte


pushkar


um carro em uma estrada oficial da índia

deserto de pushkar

pushkar e a galera tomando banho no lago sagrado






nós em bundi. todas as cinco acima.

macaquinho que quase nos atacou em bundi.

cantando no chuveiro, literalmente. hotel em bundi.

como seríamos se fôssemos indianos. loja em jaipur.

elefaaante!!!!

eu no meio das mil colunas do palácio de âmbar, em jaipur.



(.... faltam ainda algumas fotos. estou em paris, roubando a conexão sem fio de alguém. tenho mais de 500 fotos da viagem. e mais coisas pra falar também. então depois eu coloco mais.)